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A mortalidade e a sobrevivência das micro e pequenas gráficas no Brasil

Thomaz Caspary ( In memoriam )

Embora estejamos em um pais que realmente segue as suas próprias Leis sempre contornáveis de alguma maneira, mesmo que ilícitas e, após a aprovação das novas regulamentações trabalhistas e a condenação do ex-presidente Lula, nossas gráficas, principalmente as de pequeno porte têm inúmeras dificuldades para continuar no mercado. Temos na maioria dos casos, destas empresas familiares o fato do desconhecimento de especificidades regulatórias do nosso setor, até a falta de experiência em lidar com clientes e aspectos técnicos dos produtos e serviços ofertados. Além disso, por sua “desorganização” estão envolvidos em maiores custos devido à sua baixa escala e menor poder de negociação frente a supridores e clientes de maior porte.

Surge, assim, o nosso interesse em examinar fatores que poderiam reduzir o risco da mortalidade destas gráficas. No caso destas empresas, o fato de sobreviver já nos seus primeiros anos de vida já pode ser um importante, embora não único indicador de desempenho. Neste estudo específico, com base na amostra de pouco menos de 50 gráficas de micro e pequeno porte em diversas capitais do Brasil, nos deparamos com o impacto de três grupos de fatores. O primeiro fator é o capital humano do dono da gráfica, isto é, o conjunto de conhecimentos e competências intrínsecas – resultantes de sua educação e experiência prévias – que podem auxiliar no dia-a-dia do seu negócio. O segundo fator é o capital social do empreendedor, recursos inseridos em uma estrutura social que são obtidos e/ou mobilizados por meio de ações com um determinado propósito. Por fim, o impacto da falta de adoção de práticas gerenciais: ações que permitiriam uma maior eficácia e eficiência dos processos produtivos e organizacionais nestas gráficas.

A ecologia destas gráficas relata diversas variáveis relevantes influenciando a probabilidade de que firmas irão perdurar nos seus mercados – dentre elas, o tamanho da empresa e a sua filiação a entidades do setor. O pressuposto é que firmas competem em mercados por recursos e clientes escassos, e que determinadas características das gráficas podem torná-las mais ou menos aptas a enfrentar esta competição. Por exemplo, empresas menores têm, tipicamente, menor conhecimento sobre as especificidades do setor e uma escala produtiva geralmente restrita, o que as torna mais frágeis na sua competição com empresas de porte e gestão mais desenvolvidas.

Infelizmente o baixo conhecimento de gestão administrativa do dono de pequenas gráficas influencia a sua capacidade de analisar o setor e preparar o reposicionamento da empresa; formular ações que possibilitem o melhor retorno possível; dominar características técnicas dos produtos e serviços; e equacionar os investimentos necessários. Desta forma, quanto maior o nível de escolaridade, de treinamento e de experiência acumulada pelo dono do negócio, maior a probabilidade de sobrevivência da sua empresa.

Empresários gráficos de pequeno porte podem se valer de diversos tipos de laços sociais para obter recursos que os favoreçam. Por exemplo, podem estabelecer relações comerciais de mais longo prazo com supridores, clientes e até mesmo competidores visando trocar informações, planejar processos e gerar novos produtos. Podem, também, participar de associações setoriais visando não somente trocar informações, mas também articular ações coletivas. Laços familiares, por fim, tendem a ser uma fonte bastante expressiva de recursos. Tais laços permitem acesso a recursos financeiros a um baixo custo, informações sobre novas oportunidades de investimento, e conhecimentos prévios adquiridos por pessoas da família. Quanto maior a ligação a membros familiares, amigos, parceiros comerciais, etc., maior o acesso a recursos valiosos – informações, recursos financeiros, conhecimentos, etc. – que devem aumentar a probabilidade de sobrevivência do empreendimento.

As práticas gerenciais são ações adotadas que permitem ao empreendedor aumentar a eficiência dos seus processos produtivos e comerciais, e a eficácia da sua organização. Diversas práticas gerenciais podem ser elencadas. A disponibilidade e uso de informações ajuda o empreendedor a identificar oportunidades e antecipar riscos e ameaças. O planejamento afeta o ritmo de crescimento da empresa e o seu desempenho. Porém um foco excessivo em planejamento e pouca ação do que já foi estabelecido pode reduzir sua capacidade de resultados.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo, mostraram que a sobrevivência das micro e pequenas gráficas sofre uma influência altamente significativa do seu tamanho: quanto maior o tamanho da empresa, menor a probabilidade de fechamento. Outro resultado é que o fato da empresa prestar serviços ou vender produtos sem nenhum Plano de Negócios têm uma maior probabilidade de fechamento. Uma possível explicação para este resultado é que, ao ganhar cotações, a empresa passa a contar com um fluxo incerto de vendas, e sem a certeza de rentabilidade durante de horas disponíveis. Reduz-se assim a incerteza e a volatilidade do resultado.

Os resultados deste estudo indicam que a probabilidade de fechamento da empresa onde o empreendedor possui pelo menos estudos em escola de educação superior (tecnólogo ou faculdade) é significativamente menor do que aquele que possui até o segundo grau de escolaridade (grande parte dos donos de gráfica). Além da escolaridade, mostrou-se altamente significativo o efeito do tempo gasto no levantamento de informações sobre a empresa, planejando o negócio ou estudando o setor antes de replanejar a gráfica para atuar nos dias de hoje. Este resultado indica que, mesmo que o empreendedor não tenha experiência global de gestão, ele pode compensá-la capacitando-se, buscando informações e novos conhecimentos que podem ser úteis na antecipação de problemas e na inclusão no mercado. Este efeito ressalta a importância da criação de competências e habilidades que aumentem o capital humano do empreendedor e o preparem para a abertura da empresa. Uma dica para estes casos é a contratação de um assistente externo que hoje conhecemos como Coach.

O investimento de tempo (e não necessariamente de dinheiro) associado às práticas gerenciais, mostrou baixíssima probabilidade de fechamento para as empresas geridas por empreendedores que reportam sempre aproveitar oportunidades, antecipar acontecimentos e preparar-se para enfrentar os problemas antes que eles aconteçam; empreendedores que reportam sempre buscar intensamente informações que auxiliam na tomada de decisões nos seus negócios; e empreendedores que reportam sempre seguir de forma persistente seus objetivos. Em particular, os resultados ressaltam a importância de ações para promover uma rápida adaptação do negócio no seu mercado (buscar informações, antecipar acontecimentos, etc.). Os resultados sugerem, também, a importância do comprometimento do empreendedor à sua firma (seguir seus objetivos com persistência), ainda que em face de inúmeras dificuldades agentes internos e externos.

As práticas gerenciais é, dentre todos os tópicos analisados, o mais importante na previsão da probabilidade de fechamento das empresas. A adoção de práticas gerenciais é fundamental para alocar e combinar os recursos da organização sob condições competitivas do ambiente.

 

CONCLUSÕES

Nossos resultados indicam que nenhum fator pode explicar, isoladamente, a chance de sucesso das micro e pequenas gráficas na nossa amostra. Entretanto, vale notar que, nas nossas análises, o maior poder explicativo, em conjunto, foi obtido com as variáveis relacionadas à adoção de práticas gerenciais. Este resultado sugere que empreendedores podem, eventualmente, compensar um baixo estoque de capital humano ou social por meio da adoção de práticas que aumentam a eficiência ou eficácia organizacional do novo negócio.

Certamente, o nosso estudo apresenta algumas limitações. Dado que a nossa amostra envolve poucas empresas onde, não é possível generalizar estes resultados para a massa da nossa indústria gráfica. Além disso, o foco somente na sobrevivência de empresas deste porte deixa de examinar outros aspectos que podem estar relacionados ao seu desempenho. É sabido que sobrevivência não implica, necessariamente, desempenho econômico. Por exemplo, empresas podem sobreviver às custas de injeção de capital dos seus fundadores, ainda que estes investimentos não resultem em retorno efetivo. Além disso, podem existir casos de “fechamento” intencional: o empreendedor pode ter estabelecido um novo negócio para capturar alguma demanda momentânea e depois ser encerrado ou vendido. Finalmente, o nosso estudo não examina os antecedentes ou os processos que levam a variações na probabilidade de fechamento. Por exemplo, o que faz alguns empreendedores adotarem determinadas práticas gerenciais e outros não? De que forma, efetivamente, a busca de informações pode afetar o sucesso do novo empreendimento.

De qualquer maneira expusemos um farto material para sua reflexão.

* Thomaz Caspary ( in memoriam ) foi Consultor de Empresas, Coach e Diretor da Printconsult Consultoria Ltda. (São Paulo - SP)




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